domingo, junho 02, 2013

detone na balada falando sobre física quântica



ele concorda que impactar já na primeira frase é ótima estratégia. Porém, se convenceu de que existem outras igualmente válidas e que o encanto está não só no que é dito, mas também em como é dito. Assim, como em tantos outros casos, com a maior segurança do mundo ele aborda uma moça que provavelmente nem havia percebido que ele estava lá.

- oi.
- oi.
- qual teu nome?
- viviane.
- o meu é maurício.
- você mora nesta cidade?
- moro.
- e faz o quê?

Sim, o papo estava bem fraco. Mas ele não se preocupava. O plano era deixar rolar e lançar carta alta assim que o próprio jogo apresentasse a oportunidade, por si só. Tipo, fazer comentário interessante sobre a cidade ou a profissão dela. Mas a moça só despejava cartas difíceis e quando, com cara de tédio, respondeu 'só trabalho', sem nem dizer sua atividade, ele sentiu que poderia morrer com o zap na mão. Para evitar a tragédia, armou-se de toda sua sinceridade e disse:

- olha, eu sei que estou falando coisas muito óbvias, mas é só pra quebrar o gelo. Se você preferir podemos partir agora mesmo para uma conversa de profundidade.

E com um meio sorriso cínico emendou: eu sei um pouquinho de quase tudo o que existe.

- Sério? - ela perguntou com cara de surpresa e voz de deboche.

- Vou dizer o que eu quero com você e para isso usarei termos da física quântica.

Ela respondeu com a sobrancelha.

- Bom, todo mundo sabe que dois corpos não ocupam simultaneamente um mesmo lugar no espaço. Mas, segundo a física quântica, um mesmo corpo pode ocupar ao mesmo tempo dois lugares no espaço.

Agora ela respondeu com um movimento de cabeça e com olhos piscando, como quem diz 'me convença' ou, talvez, 'acabe logo com essa chatice'.

- o fato é que, seu eu pudesse escolher dois lugares para estar agora, eu queria estar dentro e fora de você!

Como sabia do risco de deixá-la tirar suas próprias conclusões sobre essa cartada, ele acrescentou:

- uma parte minha aqui, olhando pros teus olhos, e a outra aí dentro, invadindo teu coração.

A frase fez a tensão na testa dela desaparecer, criando um contraste tal que ele sentiu que provavelmente acabara de se livrar de uma bofetada. Mesmo assim, ela passou a mão na bolsa e disse:

- preciso ir ao banheiro. Prazer em conhecê-lo, Maurício. Tchau.

Ele pensou em usar física quântica mais uma vez, dizendo 'talvez eu esteja lá agora mesmo', mas ponderou: física quântica não é para este público. E encerrou seu show, já de olho na morena que bebia sozinha no balcão.