sexta-feira, agosto 12, 2022

eu eu sempre tive ciúme das boas ideias

e as guardava só pra mim

para externá-las num certo 'momento certo'

um dia, postei uma boa ideia, tão logo ela apareceu

seria um 'novo dia"?

 

dizem que no fim, a vida toda passa pela mente em um segundo

como um filme

tantos anos só cabem em um segundo, com sentido, se apenas o relevante for selecionado

então, a pergunta: nesse filme, quanto tempo dura um segundo? Em quantos fragmentos se divide um momento? Como se espalham no tempo?


toda vida tem momentos cativantes

a sua também

e, seja como for, bem contada

qualquer história pode ser um pouco poesia


E se a vida for uma poesia?

Cujos versos surgem ao acaso, inconscientemente

entre acontecimentos menos notáveis


E se ser poeta significar a capacidade de identificar

o que é verso e o que é rotina?

Colecionar e organizar versos

numa visão retrospectiva


esta ideia me surgiu como uma pequena epifania

eu eu sempre tive ciúme das boas ideias

mesmo assim, eu a postei imediatamente

seria um 'novo dia"?


sexta-feira, março 16, 2018

Felicidade por um minuto, felicidade para a vida inteira


Com o dinheiro que ela tinha conseguiria comprar comida para dois, talvez três dias. E não havia perspectiva de que algo fosse mudar. A prudência, portanto, recomendava moderação. Essa era a estratégia para manter o corpo nutrido. É o que faria qualquer pessoa de senso comum. 

Porém, naquele dia ela foi ao mercado e gastou de uma só vez todo o seu dinheiro. Convidou os amigos para um jantar, um jantar modesto mas muito gostoso, que ela preparou utilizando tudo o que tinha comprado. 

A reunião foi uma festa, que começou já na cozinha, enquanto a comida era preparada. Com garfos e taças eles alimentaram o corpo; com conversas e risadas transbordaram a alma. No fim, cada rosto estampava leveza e felicidade. O dela também. 

À essa altura, uma pessoa como eu começaria a pensar em como resolveria os problemas da manhã seguinte. Aliás, uma pessoa como eu estaria se consumindo em remorso pela imprudência que acabara de cometer. Mas ela aparentemente ainda estava tomada pelo êxtase do momento. Seu sorriso era o de quem tinha o futuro garantido. 

Ninguém morre de fome de um dia para o outro. Isso levaria algum tempo e nesse tempo a salvação poderia aparecer. Imagino que dessa esperança é que vinha toda sua força. Ou talvez de seu peculiar jeito de pensar, para quem nunca podemos adiar a chance de sermos felizes, pois de adiamento em adiamento, corremos o risco de não sermos felizes nunca. Seja como for, se o fim chegasse eu acho que o coração dela estaria dominado por um sentimento: a vida pode ter sido difícil, desajeitada, cheia de tropeços e cicatrizes. Mas houve felicidade! 

Pessoas como ela parecem andar entre nós para nos lembrar de sermos felizes. Se a vida fosse uma estrada, elas seriam placas dizendo "Felicidade a 100m". E os incrédulos que, tendo passado direto, olhassem pelo retrovisor, veriam pichada nelas uma pergunta: "Quando você vai ser feliz?"

quarta-feira, outubro 08, 2014

Tem Serra no seu Genérico?


José Serra costuma se apresentar como autor da lei que criou os genéricos. Qual o verdadeiro significado disso?

Quem inventa um novo produto tem o direito de patenteá-lo, ou seja, registrar sua invenção em um órgão específico do Poder Público. Essa patente lhe confere o direito de exclusividade na produção e comercialização. Ou, ao invés de produzir, o dono da patente pode vender esse direito, cedendo a exclusividade a terceiros.

No Brasil, a patente é regulamentada pela Lei 9279/96, a Chamada Lei de Propriedade Industrial. A exclusividade decorrente da patente dura 20 anos. Findo esse prazo, a invenção cai em domínio público e qualquer pessoa ou empresa pode produzir o produto, sem precisar de autorização do inventor.

Isso tudo também se aplica à indústria farmacêutica. Dessa forma, toda vez que um novo medicamento é inventado, a indústria que o patentear terá direito de produzir com exclusividade, sem concorrência de ninguém. Com esse monopólio, o laboratório tem poder para cobrar preços altos por seus medicamentos.

A Lei dos Genéricos (Lei 9787/99) incide apenas nos medicamentos que, por terem sido patenteados há mais de 20 anos, perderam a exclusividade decorrente desse registro. Sua contribuição para redução dos preços decorre de regras que organizam a concorrência entre laboratórios fabricantes. Por exemplo, exige que os rótulo desses remédios sejam identificados apenas pelo princípio ativo do medicamento, tornando a marca ou nome da indústria um elemento secundário de distinção. Isso não é pouco, pois exime o médico de ter que escolher este ou aquele nome na hora de escrever a receita. Muito mais do que uma facilidade,  permite que, na farmácia, o paciente possa escolher livremente preços e laboratórios de sua preferência, o que não seria possível se a receita indicasse um remédio específico, caso em que o farmacêutico está proibido por lei de fazer qualquer substituição.

O preço cai porque, nesse cenário, após passarem pelo mesmo sistema de controle do Poder Público, todos os laboratórios, seja o grande e consagrado (geralmente uma multinacional), seja o pequeno e novo, disputam clientes em igualdade de condições.

Onde entra Serra nessa história?

A Lei dos Genéricos nasceu de um Projeto de Lei de 1991, ano em que Serra era deputado federal. Porém, o autor do Projeto é Eduardo Jorge, à época deputado federal pelo PT/SP. O Projeto somente virou Lei depois de oito anos de tramitação no Congresso Nacional, quando Serra estava licenciado do cargo de senador para exercer o de ministro da saúde. Juridicamente, sua única participação nesse processo foi assinar junto com o Presidente da República o ato de promulgação dessa Lei. No entanto, se o Presidente assinasse sozinho, a Lei teria a mesma validade; mas se Serra assinasse sozinho, a Lei não teria validade nenhuma.

É claro que a criação de uma lei não se resume à reunião de políticos a portas fechadas. As leis produzem consequências e os envolvidos tendem a participar desse processo, a fim de protegerem seus interesses, principalmente quando daí resultar efeitos econômicos. O fortíssimo lobby exercido constantemente pela bilionária indústria farmacêutica é um ótimo exemplo desse tipo de pressão. Daí se conclui que, muitos agentes, embora não tenham uma participação formal ou jurídica na elaboração das leis, podem ter significativa contribuição no processo legislativo, às vezes até maior do que a dos próprios políticos. Talvez esteja aí a contribuição de Serra. O problema é que ele nunca explica isso.

Questão relevante a ser considerada é que a Lei dos Genéricos e a Lei de Proteção à Propriedade Industrial foram promulgadas pelo mesmo governo e, de certa forma, a primeira dá com uma mão o que havia sido tirado com a outra.  Um dos motivos para o alto custo dos remédios é o monopólio de 20 anos que esta última confere ao inventor. A Lei dos Genéricos poderia acabar com essa regra. É evidente que isso, ao mesmo tempo em que reduziria o lucro das indústrias, poderia estimulá-las a desistir de produzir no país. A Lei dos Genéricos emplacou uma solução intermediária, limitando-se a facilitar a comercialização de medicamentos que já perderam a patente, medida que alguns países implementaram antes de nós e que já era recomendação da Organização Mundial de Saúde.


Portanto, Serra precisa explicar melhor sua paternidade, não só em relação à Lei dos Genéricos, mas também em relação à Lei de Proteção à Propriedade Industrial. 

sábado, agosto 02, 2014

coligação zero


a corrida presidencial deste ano promete. ao menos para quem aprecia o exótico. os três mais novos partidos brasileiros vão participar da primeira eleição de suas histórias: o partido anarquista (pa), o partido minimalista (pmini) e o partido niilista (pniil). o trio formará coligação de sugestivo nome: zero.
para o cargo de presidente os zeros, como se autodenominam os integrantes da coligação, apresentam o nome de fortunato damião severo. na avaliação dos analistas políticos, além de ser um absoluto desconhecido da opinião pública, o político encontra no próprio nome uma dificuldade adicional de fazer emplacar sua candidatura. é um nome longo e anacrônico. não combina com nenhuma tendência.

sobre este ponto, a coligação se diz tranquila, pois sua equipe técnica já teria pronta uma estratégia que surpreenderá, e poderá, por fim, representar o grande trunfo da campanha. embora os zeros nada tenham antecipado, duas especulações, obtidas a partir de fontes próximas, ganharam destaque: primeiro, agregar ao nome do candidato o título 'doutor', o que contribuiria para afastar o estigma de despreparo que se costuma imputar a candidatos sem histórico acadêmico. segundo, utilizar uma versão reduzida do nome, formado por suas iniciais: fo, de fortunato; da, de damião; se, de severo. assim, segundo essas especulações, a chapa zero será encabeçada pelo doutor foda-se.

cogita-se que outra grande dificuldade para o partido recaia sobre o próprio programa de governo. ao menos à primeira vista, soa como algo inédito, absurdo e inconveniente. porém, os zeros argumentam que facilmente poderão convencer o público de que a verdade é justamente o oposto disso. 'nada é obstáculo para aquilo que é coerente', diz um dos candidatos, 'e nenhum partido ou coligação, em qualquer momento da história brasileira, jamais apresentou uma proposta tão coerente', completa. ainda segundo ele, 'o eleitor descobrirá que cada um de seus mais ardentes desejos é ponto visceral de pelo menos um dos partidos da coligação e que se harmoniza com a proposta de todos os outros'.

de fato, as poucas linhas que constituem o programa de governo da coligação corroboram, ao menos na teoria, essa ideia. e o fazem de forma impressionante.

referência fundamental de qualquer governo é saber se ele é de esquerda ou de direita, diferença que costuma ser traduzida na célebre frase 'dar o peixe ou ensinar a pescar'. os dois lados concordam que é função do estado ensinar a pescar. para a direita, a igualdade que existe entre os seres humanos está presente do começo ao fim. para a esquerda, a igualdade é ponto de chegada e há um momento em que além de ensinar a pescar, também é preciso dar o peixe, para que o aluno não morra de fome antes que esteja pronto para a pescaria.

portanto, a eliminação do estado, proposta fundamental dos anarquistas, é também objetivo dos partidos de esquerda e de direita; a diferença é que a direita quer isso como um ponto de partida, argumentando que se todos são iguais, ninguém precisa de tutor (leia-se estado) e para a esquerda a igualdade é ponto de chegada; uma vez alcançada, revelaria que o programa de governo se esgotou, cumpriu seu desígnio, tornando por isso mesmo o estado um ente desnecessário, pronto para ser eliminado. por essa lógica, no fundo, dentro de cada ser humano habita um anarquista que aguarda o momento de tomar o controle de seu destino.

para os niilistas, o fundamental é reconhecer a necessidade de total mudança e que isso não é factível a partir de reformas; é preciso excluir totalmente o modelo existente, eliminando tudo o que foi criado durante sua vigência. nesse ponto é idêntico à proposta anarquista de destruição.  a partir de um zero absoluto, parir uma nova sociedade e um novo mundo. desse prisma, conclui-se que é indiferente se o recomeço será feito a partir da esquerda, da direita, com o estado ou sem ele. em síntese, para os niilistas, se algo deu errado, nada serve e tudo deve ser substituído e isso é exatamente a única constante que se extrai dos comentários formados pelo senso comum da generalidade dos eleitores.
a proposta de destruição, que identifica anarquistas e niilistas, também é sustentada pelos minimalistas. no entanto, o pmini admite a permanência de estruruas mínimas, desde que rigorosamente justificadas pela necessidade, ideia que vale para qualquer estágio do governo, seja durante a desconstrução, seja durante a (re)construção.

na prática, o programa de governo dos zeros se traduz em pouquíssimos atos: revogação de todas as leis e eliminação de todas as estruturas estatais (inclusive a polícia e a justiça). a lógica, a ética, a política, enfim, todos os paradigmas que conduziram até então a espécie humana serão substituídos por uma mão invisível, que poderá ou não ser a do mercado (isto é irrelevante, pois o que deve prevalecer é a força que conseguir predominar, com o que se comprovará indispensável).

sobre a viabilidade dessa estratégia o plano nada aponta e, segundo os zeros, não há incoerência nisso: se o processo se revelar um fracasso a humanidade tende a desaparecer. antes desse extermínio, calculam eles, o gênio minimalista saberá indicar a hora de parar. nesse momento, haverá pouco o que se salvar e isso facilitará a tarefa de reconhecer o que, sendo fundamental e indispensável, deve ser preservado.

encerrada a destruição, a humanidade deverá optar entre estagnação ou reconstrução. nesse momento, o predomínio dos minimalistas (estagnação) ou dos niilistas (reconstrução) dependerá muito da avaliação do estágio anterior: se a destruição atingiu apenas o que era dispensável, o mundo não tem motivos para novos movimentos. porém, se houver falta de algo, fica evidente a necessidade de reconstrução e, então, será a vez dos niilistas. nesse ponto, fica claro porque a única concessão que cada partido fez a seu programa original é exatamente igual à concessão feita pelos outros dois: os zeros, que querem assumir o poder apenas para eliminar o estado (e tudo mais que existe), concordam ser sensato que a reconstrução seja feita a partir de algo que já existia (concessão niilista). também concordam que esse algo seja uma fração do estado (concessão anarquista). finamente, há igual acordo de que não se pode eliminar totalmente a esquerda ou a direita, ou seja, não se pode reconhecer que apenas uma ala é indispensável (concessão minimalista), de modo que a única estrutura a ser mantida deve atender as exigências dos dois lados.
por tais motivos, a proposta dos zeros é revogar todas as leis e desmontar todas as estruturas, menos o ministério da pesca.

sexta-feira, setembro 27, 2013

O queijo nosso de cada dia


Naquela família viviam todos sob o sustento do pai, um operário aposentado. Um sujeito de infância pobre e difícil, que muito cedo se tornara órfão do pai, soldado de Franco que a Guerra Civil levara, e um oceano afastado da mãe, que deixara a vida camponesa em terra natal em troca de trabalho doméstico no Brasil. Assim foi – ou não foi – filho, assim se tornou pai.

O universo daquela casa tinha algumas regras que lhe eram próprias e uma delas ditava que pão se comia com queijo. O mais convicto da importância dessa dieta era o próprio pai, que considerando-a imposição de seu papel de provedor, era muito diligente na sua manutenção.

O filho mais velho era o primeiro que acordava, pois saia cedo para trabalhar. Foi que, em certa ocasião, o rapaz se deu conta de que não havia queijo para seu sanduíche. E percebeu também que aquela situação já tinha alguns dias. Para ele isso não era problema; virava-se facilmente com margarina ou geleia. O alarme, portanto, não vinha da barriga, mas da parte da consciência ligada ao sistema de regras da casa. De mais a mais, provavelmente seria - pensava ele - um lapso de organização ou algum detalhe de pouca relevância que logo seria superado. Porém, passavam-se os dias e nada de queijo.

Ao pai não faltava doçura. Mas também era um espanhol típico, teimoso e zangado, que não demorava para começar a gritar. Nesse contexto, as habilidades da mãe garantiam a ela um lugar muito estratégico na família. Através da matriarca as relações se intermediavam. Era um tipo de ministra de relações do pequeno cosmo familiar. Porém, mesmo a ela o primogênito nada falou.


Mas não tardou muito e o queijo reapareceu. Isso ele percebeu numa manhã, enquanto preparava o sanduíche que levaria pro trabalho. E foi no caminho que o mistério do queijo para ele se desfez, quando no rádio do carro ouviu a notícia de que, naquela semana, a previdência social estava pagando o décimo terceiro salário. E a revelação deu-lhe tom de ouro ao silêncio que sobre o assunto por todo tempo mantivera.  

sexta-feira, agosto 16, 2013

crimes contra honra x improbidade administrativa


Chama atenção a capacidade que algumas pessoas na Câmara Municipal de Piracicaba têm de se envolver em problemas com a Justiça e com o Ministério Público. No episódio mais recente, alguns vereadores alegam que foram vítimas de ofensas pessoais praticadas na imprensa e na internet por munícipes e, representados por advogados do Legislativo, estão processando os supostos agressores. A Promotoria de Justiça, entretanto, entende que cada vereador deveria contratar e pagar seu próprio advogado, já que os advogados da Câmara somente podem defender os direitos da Câmara e são proibidos de defender interesses das pessoas que ali trabalham, sejam funcionários ou vereadores. Segundo o MP, o uso indevido de advogados caracterizaria improbidade administrativa.

Em defesa dos vereadores, o diretor jurídico da Câmara alega que as ofensas foram feitas em razão do cargo exercido pelos vereadores, o que legitimaria o uso da máquina pública nos processos. Entretanto, tudo indica que esse pensamento não é válido. Aqui será citado apenas um ponto.

Pelas regras do Código Penal, existem três tipos básicos de ação penal:

1) ação penal pública incondicionada: é aplicável a quase todos os crimes, tendo em vista o prejuízo que o crime representa para toda a sociedade. Ela é movida pelo Ministério Público e tem início com uma peça processual chamada denúncia.

2) ação penal pública condicionada: em tudo semelhante à primeira. A única diferença é que o Ministério Público somente pode iniciar o processo se receber uma representação, ou seja, um pedido da vítima. Funciona assim levando em conta que o processo em si pode gerar à vítima desgastes de tal porte que, às vezes, é preferível evitá-lo. Há, portanto, um balanceamento entre o interesse da sociedade e o da vítima. Mas é preciso lembrar que a representação da vítima não é suficiente para que o processo se inicie, pois é o MP que vai decidir se as alegações e as provas justificam a medida.

3) ação penal privada: é uma versão extrema do segundo caso. Ou seja, a ideia é preservar ainda mais a vítima dos transtornos do processo. Aqui, se a vítima decidir processar seu agressor, deve contratar advogado para fazer isso. O Ministério Público não pode mover o processo.

Caso típico de ação penal privada é o dos crimes de calúnia, difamação e injúria, que estão previstos no Código Penal, no capítulo que trata dos crimes contra a honra (arts. 138 a 145). O artigo 145 estabelece que esses crimes são, em regra, de ação penal privada, ou seja, o criminoso somente pode ser processado por sua vítima. Mas esse mesmo artigo prevê exceções e uma delas é a hipótese de o crime ser praticado contra funcionário público em razão de suas funções, caso em que a ação será pública condicionada, ou, como visto acima, será movida pelo Ministério Público mediante representação da vítima.

Voltando ao que está acontecendo na Câmara, se os vereadores foram ofendidos em razão das funções que exercem, a única ação penal cabível é a pública condicionada (número 2). Assim, o caminho correto é fazer uma representação ao Ministério Público e este, encontrando na representação razões para o processo, promover a ação. Logo, todas as ações movidas pelos vereadores são nulas e devem ser arquivadas.


Os vereadores somente poderiam mover ações penais se as ofensas fossem pessoais e não estivessem relacionadas às suas funções. Porém, tratando-se de um interesse estritamente particular, obviamente não poderiam usar recursos públicos para protegê-los. Sendo assim, faz todo sentido a afirmação do Ministério Público, de que os edis praticaram improbidade administrativa.  

sábado, julho 13, 2013

trapaceiros

No terraço havia um desses bancos de praça, sem encosto, só assento, e ela estava quase na ponta. Do nada, ele simplesmente sentou-se no que restava de banco, não exatamente do lado; um pouco atrás, o que forçou a moça a virar-se para poder vê-lo enquanto respondia a pergunta. Não parecia incomodada. Seu gesto estava mais para aprovação da ousadia de seu novo companheiro de banco.
- Maria.

Apenas um palpite. Foi isso que o fez desconfiar da resposta. Mas como valoriza muito esse negócio de intuição, resolveu apostar nisso e 'entrou no jogo'.
- Eu sou o João.

E aquele risinho contido, colorido de batom, tinha cara de 'a senha está correta. Pode entrar'.
- Muito prazer, Jo-ão – ela disse assim, de forma cadenciada, pra confirmar que falavam a mesma língua.

Começaram o papo com banalidades. De tempero, trocavam ironias e outros códigos secretos. Foi o suficiente pra perceber que era uma moça culta. Talvez ele tivesse causado impressão diversa, pois tão logo deu o último trago, Maria disse:
- Vou voltar lá pra dentro, João.
- fica mais.
- não, João. Eu só vim fumar.
- só mais um minuto. Quem sabe você não acaba se convencendo de que o terraço é mais interessante que a pista.
- duvido. Essa banda é muito boa.
- já vi que você é uma mulher inteligente. Deve apreciar uma boa conversa. Lá dentro o som alto não favorece. Aqui é mais fácil encontrar bom papo.

É lógico que ela sabia que o verdadeiro recado estava nas entrelinhas e significava 'fique aqui e converse comigo'. Mas, com a mesma sutileza, ela preferiu desafiá-lo. Ou, mais provavelmente, contestá-lo mesmo.
- será?
Maria era jogo duro!

- olha, o meu acervo é do tipo enciclopédico; conheço um pouco de cada coisa. Provavelmente poderemos encontrar algo que desperte curiosidade. Ou, pelo menos, motivo para algumas risadas.

Ela desfez a menção de levantar-se. Colocou a bolsa no banco e disse:
- surpreenda-me.

Um movimento errado e o rei cairia, ele pensou. Sabia que era hora de usar o melhor e tentou fazer isso. Porém, como parte de sua estratégia, disfarçou naturalidade.
- muito bom o seu perfume.
- o seu também.
- peônia no coração, base de vetive. Se eu tivesse que advinhar diria que tem bergamota na abertura. E se neste momento eu estivesse escolhendo um vinho pra gente, pediria um Château Margaux: taninos densos, cor profunda, aroma complexo.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, com um ar muito sério. Ele pensou que tivesse impressionado mas a moça começou a rir. Quando parou, tocou-lhe levemente o lábio com o indicador, como quem pede silêncio, e disse.
- meu perfume não tem bergamota e a base é de cedro. E o Château, João, é um vinho branco!

Então riram.
- mas tenho que confessar, João: sua tentativa foi genial! Se toda trapaça tivesse o charme e a sofisticação da sua, as noites seriam muito mais divertidas. Agora vou lá pra dentro mesmo. Prazer em conhecê-lo.

Ela já tinha se afastado alguns passos quando ele gritou:
- Maria!
A moça virou pra trás e ele perguntou:
- qual seu nome?
- luciana – e voltou a caminhar em direção à pista.
Jean sorriu e foi buscar outra bebida.


domingo, junho 02, 2013

detone na balada falando sobre física quântica



ele concorda que impactar já na primeira frase é ótima estratégia. Porém, se convenceu de que existem outras igualmente válidas e que o encanto está não só no que é dito, mas também em como é dito. Assim, como em tantos outros casos, com a maior segurança do mundo ele aborda uma moça que provavelmente nem havia percebido que ele estava lá.

- oi.
- oi.
- qual teu nome?
- viviane.
- o meu é maurício.
- você mora nesta cidade?
- moro.
- e faz o quê?

Sim, o papo estava bem fraco. Mas ele não se preocupava. O plano era deixar rolar e lançar carta alta assim que o próprio jogo apresentasse a oportunidade, por si só. Tipo, fazer comentário interessante sobre a cidade ou a profissão dela. Mas a moça só despejava cartas difíceis e quando, com cara de tédio, respondeu 'só trabalho', sem nem dizer sua atividade, ele sentiu que poderia morrer com o zap na mão. Para evitar a tragédia, armou-se de toda sua sinceridade e disse:

- olha, eu sei que estou falando coisas muito óbvias, mas é só pra quebrar o gelo. Se você preferir podemos partir agora mesmo para uma conversa de profundidade.

E com um meio sorriso cínico emendou: eu sei um pouquinho de quase tudo o que existe.

- Sério? - ela perguntou com cara de surpresa e voz de deboche.

- Vou dizer o que eu quero com você e para isso usarei termos da física quântica.

Ela respondeu com a sobrancelha.

- Bom, todo mundo sabe que dois corpos não ocupam simultaneamente um mesmo lugar no espaço. Mas, segundo a física quântica, um mesmo corpo pode ocupar ao mesmo tempo dois lugares no espaço.

Agora ela respondeu com um movimento de cabeça e com olhos piscando, como quem diz 'me convença' ou, talvez, 'acabe logo com essa chatice'.

- o fato é que, seu eu pudesse escolher dois lugares para estar agora, eu queria estar dentro e fora de você!

Como sabia do risco de deixá-la tirar suas próprias conclusões sobre essa cartada, ele acrescentou:

- uma parte minha aqui, olhando pros teus olhos, e a outra aí dentro, invadindo teu coração.

A frase fez a tensão na testa dela desaparecer, criando um contraste tal que ele sentiu que provavelmente acabara de se livrar de uma bofetada. Mesmo assim, ela passou a mão na bolsa e disse:

- preciso ir ao banheiro. Prazer em conhecê-lo, Maurício. Tchau.

Ele pensou em usar física quântica mais uma vez, dizendo 'talvez eu esteja lá agora mesmo', mas ponderou: física quântica não é para este público. E encerrou seu show, já de olho na morena que bebia sozinha no balcão.

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Pula Catraca e suas interpretações

Pula Catraca é um movimento popular de contestação ao reajuste da tarifa de ônibus urbano que foi autorizada no apagar das luzes do Governo 2009/2012 em Piracicaba/SP. Consiste em manifestações de rua que vêm sendo realizadas desde o primeiro sábado de 2013. 

Sobre ele, Romualdo Cruz Filho escreveu uma crítica no seguinte site ( http://www.viletim.com.br/capa.asp?idpagina=6226&confirma=1 ) e, para expor minha opinião, que é contrária à dele, escrevi o texto que segue, utilizando, na maior parte do tempo, palavras do original, em sua forma antônima, uma maneira de revelar o poder da linguagem. É o que segue.


Em artigo que um dia eu talvez escreva, gostaria de tratar do caráter dinâmico, transcendental e dialético da democracia. Dinâmico, porque a democracia de hoje não é a mesma de ontem e tende não ser a de amanhã. Transcendental, porque nessa evolução, ultrapassa as definições que lhe são dadas por legisladores e cientistas e dialética porque sua história é feita pelo embate de forças humanas, jurídicas, econômicas, naturais, etc. Afinal, o que é democracia e, em especial, a sua variante representativa? Mais do que isso, por que essas indagações soam tão atuais em um tema tão antigo?

Somado a isso, hodiernamente também se nota um apego exacerbado não ao conteúdo, à matéria de fundo, mas sim, a questões formais, tais quais afirmações do tipo 'somos seus representantes', 'o procedimento é este', 'a lei determina isso'. Não se apela aqui à subversão, à total desconsideração de autoridades, leis e procedimentos. A verdadeira indagação é: esses instrumentos inegavelmente democráticos são suficientes para solucionar todos os problemas mesmo da mais democrática das sociedades? Se nosso berço como sociedade, a Grécia Clássica, tivesse dito sim a essa indagação, hoje mulheres, escravos e mesmo comerciantes não seriam considerados cidadãos. Devagar eu explico.
De repente (e quão apropriada é esta expressão no caso), no ocaso dos quatro anos de seu mandato, o governo autoriza um aumento que, direta ou indiretamente, atinge todos os cidadãos que se propõe a transitar pelas ruas da cidade. São no máximo 20 pessoas os previsíveis participantes do colóquio que antecedeu o ato. Seu objetivo, segundo as poucas 'explicações', é recompor o equilíbrio econômico da concessionária, inclusive para lhe permitir repor e incrementar a frota do transporte coletivo, que nenhum deles usa, mas são peremptórios em negar a acusação de caos.
A surpresa desencadeia reação popular nas ruas, organizada principalmente pela internet. O chamado não oferece recompensa, tampouco impõe sanções a seu descumprimento. Ali, ninguém é empregado nem tem que obedecer a ordem de quem quer que seja. Evidentemente, em ambiente de 'vai quem quer', o espaço está aberto para todo tipo de gente e de intenções, sejam pessoas diretamente atingidas pela medida, sejam idealistas, sejam oportunistas.

O pêndulo da dialética democrática retorna para o lado dos 20, indicando sua vez de falar. O discurso, e isso não é novidade, limita-se ao formalismo. Questiona o local do embate e os próprios combatentes. E só.

Com uma leitura um pouco mais apurada, percebemos que a questão do ônibus não é um elemento isolado na vida da sociedade. Ao contrário, permeia todos os outros. Ou um transporte público eficiente e acessível, que, estimulando seu uso reduz o trânsito, os acidentes, a poluição (pra ficar só nos exemplos mais imediatos), não diminui os problemas com saúde, infraestrutura e meio ambiente? Logo, os usuários de ônibus podem ser os interessados mais diretos, porém todos os munícipes estão ligados nessa rede, até mesmo aqueles que preferem um trânsito mais enxuto e rápido simplesmente para passear com seu carro importado.

Assim, colocada em pauta uma questão, ela tende a formar, no mínimo, dois grupos, os contrários e os favoráveis. Coloquem uma segunda e outros grupos serão formados, não necessariamente com a escalação anterior. Se Paiva e de Chico Almeida, ambos do PT, hoje estão na praça com militantes do PCO e do Reaja Piracicaba, todos contrários a uma decisão tucana, é preciso lembrar que o reajuste salarial dos vereadores formou bloco multicolorido que incluia o vermelho e o azul. Uma vez vi na TV um político dizer que a política é a atividade do dia após dia. Piracicaba parece não fugir a essa regra.

Portanto, a menos que outra nota seja incluída na crítica, parece precipitado falar de oportunismo pela simples presença de fulano, cliclano ou beltrano. É, como já disse adiante, tomar a forma pelo fundo.

De outro lado, por que esse embate é travado na praça quando existem gabinetes e parlamentos que, numa democracia, mais rapidamente traduziriam a ideia de arena política? Haveria algo de errado em nossa estrutura de poder que excluiria a grande massa da sociedade e transformaria a representação pública em uma aristocracia composta por representantes de si mesmos? Que perigo seria este? Essa é outra indagação, também formal, que logo foi lançada. Porém, mais uma vez, lançada quando ocorreu a reação (protestos), não quando ocorreu a ação (o aumento). Não são também democráticos os instrumentos de plebiscito, referendo e audiência pública?

Uma possível explicação é que, como não se importam mais com a população, os vereadores têm pouca disposição para com ela dialogar. Como as necessidades da cidade são suplantadas por interesses particulares, o prefeito têm pouca disposição para exercer seu dever de zelar pelo interesse público. Generalizam tudo e embrulham no pacote da desinformação. Então, atacam a manifestação pública em si e usam recursos públicos para 'irem levando', na tentativa de vencê-la, ora pelo esgotamento, ora pela repressão direta, seja ostensiva ou disfarçada.

No que vai dar isso? Se a falta de juízo predominar, as aventuras de uma política tacanha, urgente para o 'equilíbrio' econômico das empresas, mas displicente para com os graves e difusos problemas derivados do caos no trânsito, poderão sempre ser barradas pela polícia, que tem como obrigação legal manter a ordem e preservar o patrimônio público. Mas haverá polícia suficiente para os subprodutos ambientais, econômicos e humanos nascidos dessa opção?

O fato é que os canais de diálogo tanto na Câmara dos Vereadores como na Prefeitura não seriam recusados por essa moçada, caso tais recintos também fossem escolhidos pelos políticos que, nesses momentos, preferem se reunir em ambientes herméticos. O problema é que a causa é artificial, já que os políticos não representam a sociedade.

Concessionárias, nessa hora, estão mais preocupados em tocar seus ganhos para cima. Afinal de contas, depois de dois anos sem reajuste, não havia dúvida de que o reajuste da tarifa seria pleiteado. Mesmo assim, um cálculo simples demonstraria que a maioria dos munícipes está sendo afetado diretamente com o reajuste, porque além do público que usa o sistema, há, como eu já disse, uma tempestade de problemas que dessa espessa nuvem despenca sobre toda a cidade.

Claro que isso desaconselha a subida. E bem que haveria outra forma de repassar os custos em uma parceira público-privada. As saídas vão de  subsidiar a passagem a estatizar o serviço. Afinal, se saúde, educação e segurança, serviços públicos que são, podem ser prestados gratuitamente, por que não o transporte, serviço público que também é? As economias com saúde, infraestrutura, meio ambiente e etc poderiam custear tudo isso e o que faltasse, bem, aí é hora de esse governo mostrar capacidade e criatividade para revelar a que veio.

A não ser que se queira fazer jogo político para empresário. E quem está fazendo esse jogo? Claro, a turma dos 20: governo, empresários, alguns setores da imprensa. Em síntese, certos discursos que nos chegam vêm das mãos de políticos espertos que sabem (ou acham que sabem) muito bem manipular a ingenuidade alheia, na tentativa, não raro aviltante, de obnubilar o óbvio.


Só que há uma diferença fundamental: vivemos em uma democracia, insculpida na nossa Constituição sem adjetivos mitigadores, vale dizer, onde o poder é sim exercido, na maior parte do tempo, por representantes eleitos pelo volto direto, porém, emana do povo e em seu favor deve ser utilizado e, em alguns momentos, é diretamente por ele exercido, não só em eleições, mas também em audiências públicas, plebiscitos e referendos. O povo está à espera de pessoas capazes de dialogar e dispostas a contribuir e aprender para que o sistema representativo se expanda e se fortaleça. A sociedade não pede o fim dos políticos. Anseia apenas por políticos que honrem seus mandatos. E enquanto tais não aparecerem, utilizará dos meios legítimos que, disciplinados ou não em leis, em toda a história da Humanidade contribuiu para o aperfeiçoamento da democracia. Ou não?

sexta-feira, abril 20, 2012

Palmadas

A matéria abaixo me fez lembrar das críticas dirigidas à chamada Lei da Palmada (Projeto de Lei 7672/10), que se destina a mudar o Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de garantir educação sem uso de agressões e humilhações. Quando criança e adolescente, conheci pessoas da minha faixa etária que apanhavam e outras que eram educadas sem agressões. Alguns não chegaram à minha idade, outros seguiram caminhos ruinosos e há aqueles que se tornaram adultos de bem, uns de muito sucesso outros nem tanto assim. Em cada um desses grupos há os que foram agredidos pelos pais e os que tiveram uma educação mais sensata. Ou seja, a violência não é ingrediente para a formação de pessoas boas e se trouxe algo à minha geração foi apenas mais uma dificuldade na vida, hoje tratada em consultórios de terapia, grupos de apoio, comunidades religiosas, etc. Ou extravasada em atos como o do vídeo.

Além disso, trabalhei na área da saúde e da justiça (Ministério Público e Fundação Casa) e constatei casos absurdos de violência doméstica praticada por pais contra filhos. Para se ter uma ideia, a quase totalidade de abusos sexuais de que tomei conhecimento foram praticados nesse contexto.

Na minha opinião, a proibição pretendida já existe, pois, se um adulto dá um tapa em outro adulto, comete, conforme o caso, crime de lesão corporal, vias de fato, injúria real ou rixa (depende da situação). E isso vale mesmo que a vítima seja menor de idade, mesmo que seja filho(a) do agressor, pois a lei atual protege a todos e não faz distinção entre idades e laços de parentesco. É a própria cultura da violência, que acha normal e saudável bater, que tem impedido a aplicação da lei. Além do mais, o empregador pode advertir, suspender ou mesmo demitir seu funcionário. Mas você aceitaria receber um tapa de seu chefe por ter chegado atrasado, errado alguma tarefa ou por ter discutido em ambiente de trabalho? Se nós, adultos, cometemos erros mas não aceitamos esse tratamento, por que destiná-los aos menores, que estão em fase de formação de sua personalidade?

Sinceramente, eu não vi o vídeo, porque não suporto esse tipo de cena. Porém, para reafirmar o apoio que sempre depositei no Projeto, bastam-me as palavras do pai, ora agressor :"Foi um ato de fraqueza. Essa foi a primeira vez que bati nela DAQUELE JEITO, eu ACHEI QUE ESTAVA EDUCANDO ao bater". Um trecho desse depoimento revela um interessante aspecto do Projeto de Lei, qual seja, o de que ele protege não só os filhos, mas também os pais e a própria família: "só sei chorar e pedir perdão".

Na sequência da matéria, coloquei o texto do Projeto de Lei.


Régis Bencsik Montero

Pai flagrado ao agredir filha admite que cometeu uma ‘atrocidade’

Fonte: Yahoo Notícias (http://br.noticias.yahoo.com/pai-foi-flagrado-agredir-filha-admite-cometeu-atrocidade.html)

O auxiliar de pedreiro Alessandro dos Santos Borges, 29, flagrado ao espancar a filha de 9 anos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, admitiu que cometeu uma “atrocidade” durante entrevista concedida ao MSTV. “, eu acabei cometendo essa atrocidade contra minha filha, tenho um profundo arrependimento, eu só sei chorar e pedir perdão”, disse.

Um vizinho de Alessandro filmou a agressão e denunciou Alessandro à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (DEPCA). Vizinhos e conhecidos foram ouvidos e confirmaram as agressões aos agentes policiais, que acabaram detendo o pai da menina agredida. "Como os vizinhos contaram que a agressão teria acontecido há poucas horas, a prisão foi feita em flagrante", informou a delegada Regina Márcia Rodrigues. Em depoimento a menina teria dito que mais cedo, no mesmo dia, a madrasta também a teria agredido.

O pai da garota foi detido na terça-feira (17) e liberado no mesmo dia, depois de habeas-corpus. Alessandro e a madrasta da menina, 30, foram indiciados por lesão corporal dolosa e violência doméstica. Ele disse à polícia que estava nervosoporque a filha estragou a pintura da geladeira da casa onde moravam.

“Sempre gritei muito e, como o tom da minha voz altera sempre, os vizinhos achavam que batia nela sempre. Essa foi a primeira vez que bati nela daquele jeito, eu achei que estava educando ao bater. Em outras vezes, eu colocava ela de castigo, ela ia para o quarto e ficava lendo, mas eu não batia”, afirmou Alessandro durante o programa jornalístico.

O auxiliar de pedreiro também disse que não se reconhecia no vídeo. “A partir de tudo o que aconteceu, hoje eu sou uma pessoa melhor, eu mudei. Foi uma coisa de momento que eu não consigo nem explicar. Sei que eu não devia ter feito”.

A criança está provisoriamente com a avó paterna, que já protocolou o pedido de guarda provisória, e  pai está proibido de manter contato com ela. Caso ele desrespeite a distância mínima em relação à menina – 300 metros – poderá ser detido novamente.

A mãe biológica também está reunindo documentos para fazer a mesma solicitação da avó paterna.










PROJETO DE LEI 7672/10

Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990,
que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente, para estabelecer o direito da
criança e do adolescente de serem educados e
cuidados sem o uso de castigos corporais ou de
tratamento cruel ou degradante.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1o A Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida dos
seguintes artigos:

“Art. 17-A. A criança e o adolescente têm o direito de serem educados e cuidados pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar, sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - castigo corporal: ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente.
II - tratamento cruel ou degradante: conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou o adolescente.

Art. 17-B. Os pais, integrantes da família ampliada, responsáveis ou qualquer outra pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar  crianças e adolescentes que utilizarem castigo corporal ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação, ou a qualquer outro pretexto estarão sujeitos às medidas previstas no art. 129, incisos I, III, IV, VI e VII, desta Lei, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.” (NR)
“Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuarão de forma articulada na elaboração de políticas públicas e execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, tendo como principais ações:
I - a promoção e a realização de campanhas educativas e a divulgação desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos;
II - a inclusão nos currículos escolares, em todos os níveis de ensino, de conteúdos relativos aos direitos humanos e prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente;
III - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente nos Estados, Distrito Federal e nos Municípios, Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, e entidades não governamentais;
IV - a formação continuada dos profissionais que atuem na promoção dos direitos de
crianças e adolescentes; e
V - o apoio e incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que envolvam violência contra criança e adolescente.” (NR)

Art. 2o O art. 130 da Lei no 8.069, de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo:
“Parágrafo único. A medida cautelar prevista no caput poderá ser aplicada ainda no caso de descumprimento reiterado das medidas impostas nos termos do art. 17-B.” (NR)
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,

quinta-feira, março 08, 2012

Dia Internacional da Mulher 2012



É difícil acreditar que a vida existirá por muito tempo se não nos curvarmos à Ecologia. Há alguns anos, li 'A Teia da Vida', de Fritjof Capra, e me lembro de um trecho onde ele afirma a relação existente entre Ecologia e Feminismo, no sentido de que a primeira não existirá plenamente sem que o segundo se estabeleça de forma completa.

Vejo a Ecologia como um movimento de resgate de algo que as civilizações foram deixando para trás, ao fundarem suas bases preterindo as necessidades do meio ambiente do qual são mera parte. É (e precisa ser) de resgate hoje porque no passado não foi cultivado pelos humanos como conservação ou orientação na corrida que nos trouxe até aqui. Da mesma forma, acredito que o Feminismo seria desnecessário se homens e mulheres tivessem caminhado de mãos dadas, com solidariedade e companheirismo. Mas, ao contrário, a história da Humanidade é também a história da subjugação das mulheres.

Se a salvação do planeta (Ecologia) passa pela valorização da mulher (Feminismo), isso me faz crer que existe alguma coisa nesta vida que somente elas possuem. A primeira conclusão decorrente dessa crença é o convencimento de que o bem-estar e felicidade da raça humana são dependentes delas e o quanto lhes devemos gratidão e consideração por isso. A segunda é uma inevitável pergunta: o que seria a tal coisa?

Recordo-me, agora, de ter ouvido na faculdade o professor de Medicina Legal dizer 'beleza não existe'. Queria ele explicar que esse atributo não é algo com existência própria, inerente, de forma que possa ser meramente reconhecida quando encontrada. Ao contrário, a beleza seria coisa cultural, uma criação, um consenso. Até agora, não sei se concordo com ele. Sei apenas que, naquela ocasião, Daniela Cicarelli era 'a mulher do momento' e hoje...

Reportei-me ao 'causo' do professor porque beleza, não adianta ser hipócrita, é um dos atributos que impulsionam nossos esforços. Homens gostam de mulheres bonitas e vice-versa. Machos e fêmeas são seres igualmente seduzíveis entre todas as espécies. Não vejo problema nisso. A questão é: se o conceito de beleza é meramente um acordo, porque não chamamos as mulheres à mesa de negociações? Por que não criamos padrões que realizem uns e outros? Porque, ao invés de nos libertarmos e buscarmos a felicidade, insistimos em nos aprisionarmos em cores, formas, pesos, medidas, moralismos, etc? Por que, finalmente, os homens insistem em, eles sozinhos, definir o que é um homem e o que é uma mulher?

Uma das frentes assumidas pelo Feminismo é justamente essa, recusar os padrões criados unilateralmente por homens e inserir em seu lugar os que foram criados com a participação das mulheres. E aqui chega-se a um ponto que constitui uma das coisas mais dramáticas que já vi (e que explica porque elegi a questão estética para falar do Dia da Mulher). Enquanto o machismo imperar, enquanto não for substituído pelos postulados feministas, continuaremos pensando, sentindo e agindo bom base em seus padrões, inclusive para sabermos o que é homem, mulher e beleza. Se o primeiro estágio da luta feminista realmente é a insubmissão ao machismo, haverá um momento em que elas contrariarão a única referência vigente, ou seja, segundo os padrões machistas elas não serão belas e nem mesmo serão mulheres!

Esse foi o entendimento que tive ao ler na internet a seguinte frase, postada por uma amiga (http://espiritualismofeminista.blogspot.com/) que é a maior feminista que conheço: como ser feminista sem deixar de ser feminina?

Por estes e por muitos outros motivos é que festejo o Dia Internacional da Mulher. A todas as mulheres, minha solidariedade, gratidão e amor.

sábado, janeiro 28, 2012

Pinguim

Pinguim, a choperia mais famosa do mundo. Esta é a mais antiga das três unidades, todas em Ribeirão Preto. Nos pavimentos acima do solo ficam salões de eventos. No Natal, corais se apresentam nas janelas. À direita, o Teatro Pedro II. Tudo parte do chamado Quarteirão Paulista.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Moção de Repúdio dos Trabalhadores da Cultura à Política do Coturno em Pinheirinho


O filme Trabalhar Cansa, dos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, conquistou o Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, na categoria Cinema.

Na cerimônio de entrega do Prêmio, a dupla teve a oportunidade de fazer uso da palavra e, ao invés de falar sobre o filme, Juliana leu a 'Moção de Repúdio dos Trabalhadores da Cultura à Política do Coturno em Pinheirinho', o que foi feito diante de várias autoridades que participam do governo responsável pelo Massacre de Pinheirinho. 

Meus parabéns aos diretores e minha solidariedade ao povo de Pinheirinho e a todos os outros que, como eles, recebem o coturno como única política pública.

Ricardo Boechat comenta o Massacre de Pinheirinho


domingo, janeiro 15, 2012

I've been loosing you

A única música legal que o A-HA fez é Take on me. Mas eu tenho o estranho hábito de sempre gostar de músicas chatas...

quinta-feira, janeiro 12, 2012

1991


1991 foi o ano em que comecei a tocar violão. Eu estava na sétima série da Escola Raul Peixoto, de Ribeirão Preto/SP, e haveria um evento ali, gincana ou sei lá o quê, no qual os alunos fariam algumas apresentações (dança, teatro, jogral, etc). Como eu, outros estudantes também estavam aprendendo música e foi aí que começou surgir a idéia daquilo que viria a ser a minha primeira apresentação como roqueiro. Parte de mim era entusiasmo mas outra parte dizia não, pois as músicas das quais eu gostava eram tocadas em guitarras, por bandas completas. Então, resolvi não me apresentar. Só que, à essa altura, a coisa já havia se espalhado e muita gente queria que houvesse o momento musical. Alunos, professoras e até a diretora da escola fizeram um lobby. Mas o que me fez mesmo 'subir no palco' foram as palavras que a professora de Ciências, a Maria Lúcia, uma das mais legais que aquele colégio teve em toda sua existência, disse para mim, 'em off'. Foi uma conversa muito breve, da qual eu lembro apenas uma frase, que constituiu o golpe derradeiro à minha argumentação técnico-musical. Ela disse 'vai lá, vai ser muito legal. As menininhas vão estar todas te olhando!' Eita mulher que entende de rock... Eu toquei 'Piano Bar', dos Engenheiros do Hawaii, recém-lançada e então sucesso nas FM's.


quinta-feira, janeiro 05, 2012

Pão, circo e... porrada!

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Imagens da política social de Darcy Vera (PSD - Ribeirão Preto), a prefeita eleita pelos votos conquistados com distribuição de sopa e outros artigos populistas. Agora, a especulação imobiliária é o banquete e a sopa foi substituída pela porrada. 

sábado, dezembro 24, 2011

Mensagem de Fim de Ano (aos colegas de trabalho mas também a todos)

Esta é a Mensagem de Fim de Ano que em 2011 enviei aos meus colegas de trabalho. Porém, ao menos para mim, o espírito dela é muito abrangente, porque fala de uma coisa que enriqueceu minha vida de maneira genérica. Por tal motivo, acredito que possa estendê-la a todos. 


Colegas,

Em algum ano próximo a 1990 (não sei precisar), os trabalhadores da Cervejaria Antarctica de Ribeirão Preto promoveram uma greve. Naquela ocasião, meu pai, um dos operários da empresa, me levou com ele a uma assembléia que seus colegas realizaram em uma praça vizinha da fábrica, na qual decidiriam o destino do movimento. Foi o primeiro contato próximo que tive com uma greve. No meio de todas aqueles rostos, que traziam em si dramas e medos, mas também o ar da esperança, senti uma energia diferente no ar; foi para mim um momento mágico e místico. As imagens estão em minha mente até hoje e constituem um emocionante tesouro. Sem saber, meu pai me deu um dos presentes mais ricos que já recebi.

Duas décadas depois, em dezembro de 2010, ingressei no MPF e, meses após, participei da minha primeira greve. Não lembro o resultado da paralisação da Antarctica (provavelmente eles alcançaram algum retorno), mas eu, junto com todos vocês, fecho o ano sem obter o reajuste pleiteado. Numa análise superficial, de simples matemática, é fácil dizer que o pai ganhou mais do que o filho que ora vos fala. Eu discordo.

Meu pai sempre foi um rebelde e várias vezes ouvi seus relatos sobre embates que tivera com patrões, chefes ou encarregados, ou mesmo fora do trabalho, como consumidor, como cidadão, etc. Se inconformismo pode ser herdado, não há dúvida ser ele minha fonte e nisso nos igualamos. Porém, ele nunca se sindicalizou, jamais integrou qualquer grupo e detesta questões políticas; sua luta sempre foi solitária. Nisso nos diferenciamos, pois simpatizo com essas coisas e busquei me integrar ao espírito coletivo que está presente em nossa luta.

Nessa caminhada conheci pessoas fantásticas, obtive compreensão e carinho de meus colegas e me senti integrado a uma coisa superior. Foi um momento de grande aprendizado e de superação pessoal. Integrar esse grupo foi a chave para um dos grandes ganhos que 2011 me ofereceu. Um presente autêntico, profundo, inspirador e transformador que hoje tenho a honra de colocar no mesmo lugar onde está aquele que ganhei de meu pai. Espero que se um dia eu tiver filhos eles tenham a sorte de compreender o significado disso tudo.

Por esse presente é que agradeço a todos vocês. Para não correr o risco de cometer injustiça, deixo de mencionar nomes.

Ainda por uma questão de justiça, esta mensagem não pode ser finalizada sem o meu testemunho sobre a atuação dos funcionários do SINASEMPU. Para eles, 2011 significou trabalho redobrado, o que envolve jornadas extras que os afastaram de suas famílias, de suas vidas pessoais, de seus sonhos e de seus merecidos descansos. Vestindo a camiseta de nossa campanha, eles espalharam pelos arredores do Congresso Nacional faixas e cartazes de nossa causa, tornando-a visível aos parlamentares, estiveram lado a lado com os servidores que invadiram o Legislativo, correndo de gabinete em gabinete, gritando, aplaudindo, vaiando. E como fizeram tudo com tamanha renúncia, entrega, entusiasmo e jovialidade, era impossível distinguir quem era servidor e quem era funcionário. Por tudo isso, posso assegurar, indubitavelmente, que esses funcionários que encontrei estão conosco e defendem nossa causa como se deles fosse. Sendo assim, registro aqui minha admiração e agradecimento a eles e entendo que cada servidor do MPU tem o dever de fazer o mesmo.

Feliz Natal e Próspero 2012.