sexta-feira, março 16, 2018

Felicidade por um minuto, felicidade para a vida inteira


Com o dinheiro que ela tinha conseguiria comprar comida para dois, talvez três dias. E não havia perspectiva de que algo fosse mudar. A prudência, portanto, recomendava moderação. Essa era a estratégia para manter o corpo nutrido. É o que faria qualquer pessoa de senso comum. 

Porém, naquele dia ela foi ao mercado e gastou de uma só vez todo o seu dinheiro. Convidou os amigos para um jantar, um jantar modesto mas muito gostoso, que ela preparou utilizando tudo o que tinha comprado. 

A reunião foi uma festa, que começou já na cozinha, enquanto a comida era preparada. Com garfos e taças eles alimentaram o corpo; com conversas e risadas transbordaram a alma. No fim, cada rosto estampava leveza e felicidade. O dela também. 

À essa altura, uma pessoa como eu começaria a pensar em como resolveria os problemas da manhã seguinte. Aliás, uma pessoa como eu estaria se consumindo em remorso pela imprudência que acabara de cometer. Mas ela aparentemente ainda estava tomada pelo êxtase do momento. Seu sorriso era o de quem tinha o futuro garantido. 

Ninguém morre de fome de um dia para o outro. Isso levaria algum tempo e nesse tempo a salvação poderia aparecer. Imagino que dessa esperança é que vinha toda sua força. Ou talvez de seu peculiar jeito de pensar, para quem nunca podemos adiar a chance de sermos felizes, pois de adiamento em adiamento, corremos o risco de não sermos felizes nunca. Seja como for, se o fim chegasse eu acho que o coração dela estaria dominado por um sentimento: a vida pode ter sido difícil, desajeitada, cheia de tropeços e cicatrizes. Mas houve felicidade! 

Pessoas como ela parecem andar entre nós para nos lembrar de sermos felizes. Se a vida fosse uma estrada, elas seriam placas dizendo "Felicidade a 100m". E os incrédulos que, tendo passado direto, olhassem pelo retrovisor, veriam pichada nelas uma pergunta: "Quando você vai ser feliz?"